Exchange de ativos ambientais promete transformar o cenário atual, com um sistema unificado de negociação eletrônica que trará maior liquidez e confiabilidade, com consulta de preços em tela e um duplo sistema de compliance dos créditos
Hoje o mercado voluntário de créditos de carbono é baseado em negociações diretas entre as partes: a empresa ou organização que deseja adquirir créditos precisa buscar, por conta própria, outras empresas ou entidades que se disponham a vendê-los. Isso significa que o mercado é disperso, limitado a negociações bilaterais, e opaco, sem mecanismos transparentes para a formação de preço dos créditos.
Além disso, cabe ao comprador verificar a confiabilidade dos créditos que está adquirindo, uma necessidade que apresenta custos elevados e nem sempre é atendida de forma satisfatória: nos últimos anos, o mercado testemunhou casos que evidenciaram as limitações dos atuais mecanismos de verificação do carbono. Esses dois temas, transparência e confiabilidade, têm limitado o desenvolvimento do mercado de carbono – cujo crescimento é vital para o combate às mudanças climáticas.
A GEAP (Global Environmental Asset Platform) é uma exchange digital que propõe soluções inovadoras para ambas as questões. Primeiro, porque atuará como um balcão organizado para a compra e venda de ativos ambientais, com um front-end de negociação eletrônica.
“O histórico dos mercados de balcão ‘manuais’, que operavam por telefone ou, em tempos antigos, até em quadro-negro, mostra que a tecnologia e a formação de preços são partes essenciais de sua evolução. Existem inúmeros exemplos disso em vários mercados financeiros e de commodities”, explica Dan Parke, CEO da GEAP. “Michael Bloomberg, fundador do gigante provedor de dados, agência de notícias e plataforma de negociação eletrônica, começou sua empresa exatamente dessa forma: fornecendo informações sobre títulos públicos americanos, exibindo preços em tela, calculando preços médios, curvas, oferecendo calculadoras e análises, e eventualmente, negociação eletrônica na tela”, lembra ele.
“Qual foi o resultado disso? Foi colocar o comprador, o ‘buy side’ institucional, os gestores, em um nível de informação semelhante ao ‘sell side’, os bancos e corretores, que até então detinham toda a informação. Isso resultou em um mercado mais padronizado, mais transparente, mais justo, com spreads menores que aumentaram a liquidez e resultaram em um mercado de renda fixa mais saudável e robusto, com crédito mais abundante”, afirma Parke.
A GEAP pretende trazer esses mesmos benefícios ao setor de carbono. “Nosso objetivo no VCM [mercado voluntário de carbono] é semelhante. Sabemos que o desafio do lado da oferta é significativo, e que levará tempo para construir um estoque amplo [de créditos] e ganhar liquidez ’em tempo real’. Mas, assim como Bloomberg começou lá atrás, nos anos 80, nós não vamos desistir, porque sabemos que um pool de liquidez organizado como a GEAP é essencial para trazer transparência, credibilidade e mais acesso ao mercado de créditos de carbono”, acrescenta.
O segundo grande desafio enfrentado pelo mercado de carbono diz respeito à qualidade dos ativos, ou seja, à confiabilidade dos créditos de carbono. O mercado foi impactado pela revelação, feita em 2023, de que projetos de carbono certificados pela entidade americana Verra nem sempre correspondiam a efetivas reduções nas emissões de CO2. Mais recentemente, em junho de 2024, foi a vez da Operação Greenwashing, em que a Polícia Federal descobriu um esquema de geração de créditos de carbono baseado em terras griladas.
Situações como essas enfatizam a necessidade de um sistema de verificação mais robusto, que permita aos compradores adquirirem créditos com confiança e segurança. A GEAP pretende apresentar ao mercado uma resposta também para isso, pois possuirá um duplo sistema de compliance dos ativos – que se somará aos processos de certificação hoje existentes. Antes que os créditos de carbono sejam ofertados na plataforma, precisarão passar por um rigoroso processo de onboarding, que foi desenvolvido pela própria GEAP e incluirá verificações KYC (Know Your Carbon) e AML (Anti Money-Laundering).
“O item que está à venda na plataforma, na prateleira da plataforma, ele deverá passar por um conjunto de processos de compliance formalmente consagrados. Não é apenas dizer que foi certificado pelo standard A, B, C ou D. Isso não é mais suficiente”, explica Ludovino Lopes, advogado especialista em questões climáticas e legal advisor da GEAP.
Isso porque os padrões de certificação hoje existentes, destaca Lopes, foram projetados para fazer a certificação técnica do carbono – mas não avaliam em profundidade certos aspectos legais, como a titularidade da terra que irá gerar os créditos. A GEAP pretende suprir essa carência, aplicando um conjunto de verificações que irão elevar a confiabilidade dos créditos. “A plataforma, a exchange, enquanto não tivermos uma lei reguladora de mercados de carbono, deveria ser o guardião do mercado”, afirma Lopes. “Só que para ela ser o guardião do mercado, ela precisa efetivamente assumir um conjunto de responsabilidades, que têm um alto grau de compliance e complexidade. Então ela não pode ser apenas uma plataforma, no sentido da transação tradicional do mercado financeiro, tem que ir alem”, completa.
Ao agregar transparência, confiabilidade e mecanismos de formação de preços ao mercado de carbono, a GEAP pretende revolucionar o setor – e, com isso, estimular a utilização de créditos de carbono e outros ativos ambientais no enfrentamento, que se torna cada vez mais urgente, ao aquecimento global.
¹ Brazilian Mangroves: Blue Carbon Hotspots of National and Global Relevance to Natural Climate Solutions. AS Rovai e outros, 2022.